O caso todo não pode ser tomado como um simples golpe de estado; Manuel Zelaya foi deposto por ter proposto reformar a constituição hondurenha sem passar pelo poder legislativo. Para isso, havia convocado um referendo e, devido à ilegalidade do ato, a Justiça ordenou a prisão do presidente.
O fato, em si, é que um erro não legitima o outro. Zelaya quis mexer numa cláusula pétrea da constituição de forma ilegal, e o golpe militar também é ilegal. Essa eleição poderia ser uma maneira de colocar, finalmente, um fim ao impasse da legitimidade, mas a comunidade internacional não pensa da mesma forma. A ONU não mandará nenhum observador para as eleições e a maioria dos países da América latina já disse não reconhecer o vencedor como legítimo presidente. Os EUA são a única nação de peso a apoiar as eleições, e o Brasil ainda bate o pé para negar as eleições hondurenhas.
Oras, estimado leitor, muito me incomoda o discurso hipócrita de Zelaya: quando é para convocar referendo, ele o convoca, mesmo de maneira ilegal, e quando ocorre uma eleição, prevista desde 2006, ele argumenta que, como o presidente legítimo está fora da presidência, as votações ocorrem em uma situação de exceção e não têm validade. Manuel Zelaya deveria ter pensado “na validade” das coisas antes de seu primeiro gesto ilegal. Não adianta ele, agora, posar como presidente legítimo e nem o Brasil defendê-lo, alegando preservar o direito e a democracia do estado hondurenho. Zelaya desrespeitou ambos a seu bel prazer e agora merece assistir às eleições e engolir um novo presidente.