domingo, 21 de março de 2010

A Justiça no caso Nardoni

Amanhã, depois de dois anos após a morte de Isabella Nardoni, o casal acusado de matá-la pode ser considerado culpado no júri e, finalmente, cair no esquecimento da mídia. Durante essa semana foram divulgadas as correspondências que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá trocam entre si, cada um em sua detenção.

São cartas um tanto infantilizadas, com cada um dizendo amar o outro, perguntando da rotina diária dentro do presídio. Cartas, afinal, que não deveriam ter sido divulgadas ao público, simplesmente por seu conteúdo ser particular. A correspondência entre os dois serve apenas para ajudar no julgamento do casal, mas a mídia tem desses exageros.

Exageros que também são cometidos por pessoas: na internet, é fácil ler adjetivos como "monstros" sendo relacionados ao casal. Tanto a mídia como as pessoas têm o direito a esse tipo de reação. São passionais e um caso dessa magnitude mexe com nossos sentimentos humanos, mas a Justiça tem o dever de ser dissociada de qualquer ato passional.

Por não ser passional, talvez daí advém, justamente, o fato da instituição jurídica cair em descrédito na concepção da sociedade. O cidadão deseja uma instituição que o represente, e ao ver a sua passionalidade tolhida, sente falta de representatividade e descrédito pela instituição. Além disso, espanta ao cidadão a demora para definir-se algo no caso.

Por permitir ampla defesa e não ser passional, a Justiça pode até entrar em descrédito, mas é em momentos como o de amanhã que o cidadão médio sente-se "vingado" e acredita na Justiça. A democracia é árdua e exige instituições fortes, mesmo que para isso seja necessário um trabalho de conscientização.

domingo, 14 de março de 2010

Utopia

Caro leitor, estou lendo A Utopia, de Thomas More, e devo confessar: o livro me é prazeroso. No livro, é descrito uma sociedade cujo funcionamento seria perfeito; todos teriam condições de trabalho e a sociedade seria dividida em grandes famílias. O que mais espanta em A Utopia, é a veemente abolição da propriedade privada. Segundo More, as pessoas não teriam nem mesmo casa, pois, na parte de habitação, cada família moraria durante dez anos em uma residência para depois passar outros dez anos em outra. Isso, segundo o seu autor, faria com que as casas fossem igualmente bem cuidadas, afinal, se o cidadão quer habitar uma boa casa, ele deve deixar uma boa casa para outro. Na vida real, tal abolição de propriedade extremada não aconteceu nem mesmo após a reforma agrária cubana, proporcionada por Che Gevara e Fidel Castro, na qual cada habitante passava a ser dono de seu próprio lar, mesmo que morasse em casa de aluguel.

A Utopia tem como um de seus momentos mais interessantes aquele no qual fala sobre a veste de seus habitantes. Todos usariam o mesmo tipo de roupa, que seria simples e sóbrio. O cidadão utopiano desprezaria ouro, prata e pedras preciosas, pois, segundo More, o ouro seria dado aos escravos, que o usariam no pescoço e nos braços. Além disso, as crianças ganhariam ouro e prata para brincar, e, assim como a boneca é largada quando a criança cresce, ao chegar a adolescência, não haveria mais interesse por esses metais.

Em muitas vezes A Utopia lembra A República de Platão, por constantemente exigir um cidadão disciplinado, racional, com gostos simples e sempre agindo em concordância com o governo. Platão frequentemente amplia o seu escopo em torno de questões pedagógicas e propriamente filosóficas, o que More poucas vezes faz. É de A República a passagem mais celebrada em Platão, na qual é dito o mito da caverna. More não consegue se aproximar de tal passagem, mas, convenhamos, poucas vezes a literatura mundial teve tal brilho.

Passado o tempo, A Utopia demonstra uma influência inegável, a ponto de ser sinônimo das utopias propriamente ditas. O livro, lido hoje, tem seu valor como exortação a uma vida mais simples, racional e digna. Não podemos aplicar a estrutura da utopia de Thomas More em nossa sociedade (e ele mesmo sabia disso), mas, se conseguíssemos aplicar esse espírito de simplicidade, nossa sociedade seria acrescida de valores mais interessantes. Infelizmente, caminhamos ao oposto do imaginado por More. Vivemos em uma sociedade cuja necessidade de consumo é cada vez maior, e o valor do homem como consumidor é maior do que como o de cidadão.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Arruda preso


A cada notícia sobre o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, fica latente o desejo popular de retaliação ao político, atualmente sem partido. Responsável pelo mais novo mensalão e pelas cenas enojantes de políticos contado notas, o governador afastado, agora, parece não se encontrar bem de saúde.

Importante é notar o interesse de tal notícia. O público, sabedor que há de haver uma punição leve, anseia por Arruda ir de mal a pior. Nesse ínterim, o estado de saúde do governador serve como uma espécie de punição divina: há uma vontade de vê-lo chafurdando numa prisão pequena e sofrendo. Daí, advém a necessidade de se noticiar o inchaço dos pés de Arruda, que estariam "caminhando para uma trombose".

Obviamente, a mídia não divulga o estado de saúde muito pior da maioria dos detentos de nosso sistema carcerário. O governador afastado, preso e doente, é um caso raro e curioso, o qual o próprio público parece não acreditar e tem de observar diariamente para crer. Já sobre o nosso sistema carcerário, o público admite saber das suas reais situações, mas não deseja ver: a realidade, quando não é curiosa, é indiferente.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dunga na Copa


A Seleção brasileira fez hoje o seu último amistoso antes da Copa do Mundo da África do Sul; o time, sem Ronaldo ou Ronaldinho Gaúcho, nem de longe lembra aquela equipe designada para a Alemanha em 2006. Naquele ano, tínhamos um "quarteto mágico" e poucas dúvidas com relação a quem Parreira deveria convocar. Deu no que deu.

Após um fiasco monumental, a CBF se viu obrigada a reformular a equipe e, para isso, chamou um sujeito que até então nunca havia sido técnico na vida. Obviamente, Ricardo Teixeira, ao chamar Dunga, não tinha ideia do sucesso que este faria, mas, na época, pensava em dar uma resposta à mídia. A Seleção brasileira, considerada apática e cheia de estrelas, estaria com um técnico com garra e reconhecido como disciplinador: o próprio Romário afirma ter sido disciplinado pelo então capitão da equipe brasileira em 94. Com Dunga como técnico, deu no que deu.

A equipe, aos poucos, foi sendo montada com jogadores "operários", gente do estilo de Elano e Gilberto Silva, muitas vezes criticados, mas que ajudam no esquema tático como um todo. Agora, às vésperas da Copa, a mídia volta a pedir Ronaldinho Gaúcho e reclama da lateral esquerda da Seleção. Não vejo motivos para a volta do Ronaldinho: mesmo quando jogava bem no Barcelona, em seus tempos áureos, ele ia mal na Seleção. Não há motivos para crer que com apenas uma boa seqüência de jogos no Milan ele irá conseguir fazer o que não fez quando no time Catalão.

Já a lateral esquerda preocupa, mas tudo bem: que venha a Copa do Mundo.