domingo, 20 de junho de 2010

O guru

A semana começou com uma matéria no programa Fantástico sobre o escritor Augusto Cury. O autor havia feito uma palestra para os jogadores da seleção brasileira de futebol, demonstrando a importância de se ficar focado para o sucesso, e deu uma entrevista ao programa contando, humildemente, sua pouca influência no técnico da seleção, Dunga.

A matéria deu destaque ao escritor, afirmando que Augusto Cury seria o guru de Dunga. Aí eu mudei de canal mesmo porque não dá: Dunga, o sujeito adepto do futebol pragmático, burocrático e militar, sendo um discípulo de Augusto Cury, sujeito de frases feitas, cuja ideologia nega a autonomia do sujeito? É um casamento perfeito.

Ambos acreditam em fórmulas prontas, negando a liberdade individual de cada um e as crises institucionais que permeiam a sociedade. O futebol do Brasil é feio? Oras, mas vencemos, diria Dunga. Você está infeliz? É só seguir uns passos programados por um livro e sua alegria virá, diria Cury.

Ambos acreditam que seguindo regras simples, pré-estabelecidas, é possível alcançar o "sucesso", não discutindo de modo mais profundo isto e suas implicações. Sucesso é jogar bonito, mas não vencer, ou ganhar jogando feio? Sucesso é ser feliz consigo mesmo, ou ser infeliz, mas ciente das crises que necessariamente permeiam a condição humana? Ambos negam esse questionamento e a liberdade individual de construir respostas para isso.

Augusto Cury e Dunga, enfim, são sujeitos cujo discurso simplista e pronto tolhe a possibilidade do debate e reflexão, subestimando a autonomia de cada um. Infelizmente, o mundo cada vez possui mais gente como eles, enquanto Telê Santana e José Saramago nos deixam.

domingo, 13 de junho de 2010

Copa - primeiras impressões

Passados três dias de Copa do Mundo de Futebol do ano de dois mil e dez, o panorama que se segue, dentro de campo, é o de poucos gols (exceção à Alemanha), futebol mais ou menos e goleiros tomando frangos. Nenhum escrete (ainda) demonstrou bola para ser campeão e só dá para se animar a assistir os jogos de alguns grupos mais indefinidos. Das oitavas em diante o negócio toma mais corpo.

Fora dos gramados, há todo aquele papo de "festa africana", "dá-lhe Mandela" e "que beleza", do tipo "somos bonzinhos e estamos integrando a África ao mundo Ocidental". Mas, ao "integrar" a África, na real, estamos, como sempre, exportando um modelo de mercado que causa desigualdade social, explora o meio ambiente de forma insustentável e reduz a escolha humana a uma escolha de consumo. Que beleza.

domingo, 6 de junho de 2010

A Copa, antes


Antes que a Copa do Mundo de 2010 comece, vale lembrar, o projeto ficha limpa foi sancionado, há a suspeita de um dossiê contra José Serra por aí e o Golfo do México continua repleto de petróleo.

O controverso ficha limpa ficou num meio termo entre uma vontade política e uma ação efetiva. Poucos políticos vão ser pegos e ainda é discutida a constitucionalidade da nova lei, além de quais pontos vão poder ser aplicados já nestas eleições. Cada vez mais, afinal, a necessidade de uma reforma política fica evidente, e esse tipo de projeto demonstra a vontade da mudança mas ele, sozinho, não consegue fazê-la.

O dossiê contra Serra é o princípio de futuras trocas de acusações, e vem anunciado exatamente no momento em que Dilma Roussef empata com o pré-candidato na corrida presidencial, segundo o Ibope.

Já o petróleo, é a mancha negra a nos permear a própria alma. Que cada um conviva coma sua.