domingo, 27 de setembro de 2009

Enquanto isso, durante a semana...

Manuel Zelaya chegou para ficar em Honduras, mas não ficou em Honduras: está lá, na embaixada brasileira, que é, em tese, território do Brasil. Nosso governo, além de exilar um sujeito com o intuito de burlar a constituição hondurenha, presta um retrocesso à “democracia” do país, ao atrasar as novas eleições.

Dia 22 de setembro foi o dia mundial sem carro. Com baixa adesão, lutando contra uma matriz energética e uma malha de transporte já instituída, o dia mundial continuará sendo isso: um dia no calendário.

Último final de semana com o IPI (imposto sobre produtos industrializados) reduzido. As concessionárias agradeceram, a indústria agradeceu e o governo demonstrou que, para diminuir a carga tributária deste país, só mesmo uma crise mundial à nossa porta.

Flavio Briatore foi banido da Fórmula 1, mas, pelo histórico da FIA, sabemos: essa galerinha da pesada continuará aprontando mil e uma confusões, que deixarão qualquer um de cabelo em pé.

domingo, 20 de setembro de 2009

Pré-sal


A camada de pré-sal é o novo mote da corrida presidencial 2010. O governo, ao alardear o petróleo em nosso litoral, não o faz visando o progresso de nosso país, mas sim, obviamente, contando com a eleição da senhora mãe do PAC, Dilma Rousseff. Dilma, ainda sem carisma suficiente para ganhar a eleição e sem nenhum feito memorável ao eleitor, aparece em todo anúncio favorável ao governo, e com o pré-sal não foi diferente.

Seja falando sobre como deveria funcionar o modelo regulatório para a exploração da camada de pré-sal do Brasil ou como tal modelo diminuirá nossas desigualdades sociais, Rousseff aparece na mídia como mãe do nosso petróleo. A grande discussão dos royalties é, na verdade, a discussão sobre qual fatia do eleitorado o PT e Dilma vão querer atingir.

Tradicionalmente o PT não tem no estado de São Paulo o seu grande reduto eleitoral nas corridas presidenciais. Lula ganhou suas duas eleições contando com menos votos do estado do que se esperaria e, provavelmente, ano que vem não será diferente. Com o atual modelo de royalties, os grandes favorecidos pelo pré-sal seriam os três estados do litoral do sudeste. O PT, sabedor do seu eleitorado, tenta fazer com que o dinheiro do petróleo seja distribuído entre ele, ignorando questões ambientais e o impacto social gerado dentro das cidades cujo litoral será explorado.

O governo de José Serra se mexe para fazer com que os royalties funcionem da atual maneira, deixando dinheiro, por sua vez, no estado de seu eleitor. Assim, mais uma briga política está armada e o eleitor vê a criação de mais uma estatal a custa de seu imposto. A exploração do petróleo será feita com o dinheiro do contribuinte e o pior: não há garantia alguma de qualquer lucro. Investiremos dinheiro agora para obtermos algo só por volta de 2015, e ainda por cima estamos aplicando em uma matriz energética cujo valor é incerto. O barril do petróleo, depois de chegar a 150 dólares, despencou para 30.

Enquanto investem nosso dinheiro no escuro, na África é encontrado o campo de Venus B-1, contendo bastante, bastante petróleo.

domingo, 13 de setembro de 2009

11 de setembro

Impossível, não falar sobre o 11 de setembro de 2001. Finalmente há uma distância temporal interessante para analisar o real impacto que a queda das torres gêmeas causaram no mundo e, mais especificamente, nos EUA. Passado o auge da comoção, o calor do momento, dá para refletir mais objetivamente sobre o que afinal significou a derrocada das torres americanas.

Com os ataques terroristas da Al Qaeda, podemos dizer que começa o século XXI, seja em termos ideológicos, seja em termos históricos. Começou ali uma caça às bruxas levada a cabo por Bush filho cuja conseqüência foi a reeleição deste. Muito provavelmente a sorte de John Kerry, candidato democrata à presidência em 2004, teria sido outra, caso não houvesse o 11 de setembro. George W. Bush ganhou um segundo mandato não por sua competência política ou diplomática, mas sim pelo fato dos ataques terroristas terem despertado todo um lado reacionário do eleitorado dos EUA. E, se em sua primeira eleição pairavam dúvidas com relação a fraudes na Flórida, em sua segunda não houve margem para maiores indagações. Os EUA queriam que Bush filho continuasse sua “retaliação contra o terror”.

Durante esse período de retaliação, a maior consequência foi a concretização do sonho do Bush pai: a morte de Saddam Hussein. Buscando Bin Laden e o “terror”, os EUA se depararam com o Iraque, acusaram o país de possuir armas químicas e biológicas (nunca encontradas), caçaram o seu presidente e, como modernos missionários, exportaram o seu modelo de democracia para uma cultura totalmente diferenciada, cujas facções religiosas e políticas dificilmente aceitariam pacificamente um modelo “democrático” imposto, vindo de fora. O que sobrou foi uma ocupação norte-americana no país, com empresas dos EUA fatiando todo o dinheiro advindo do processo da reconstrução iraquiana.

A eleição de Barack Obama ainda é um eco de 11 de setembro. Com a política de Bush filho voltada para o petróleo e o terror, uma bolsa imobiliária cresceu, gerando a atual crise econômica. Com tal crise econômica instaurada, só restou ao povo norte-americano, finalmente, parar de pensar no terror e refletir que precisamos de mudança. Sim, nós podemos.

domingo, 6 de setembro de 2009

Conclusão: Da atual música produzida e consumida

Resumindo a primeira parte desse texto, em linhas gerais, acredito não haver nenhuma prova cabal de que a qualidade da música de hoje é inferior à das décadas anteriores. As mudanças as quais mencionei fizeram com que a nossa percepção musical ficasse diferente, além da própria música. Mas não é pelo fato da música ficar diferente, adotar uma nova estética, que faz com que a qualidade musical necessariamente fique inferior.

Há aqueles que ainda se apegam a um conceito de estética e percepção musical antigo, e esses sempre falarão que a música atual sofreu uma piora. Com certeza há um desleixo técnico em muitos músicos contemporâneos, a ponto dos três acordes do punk soarem como luxo hoje, mas, convenhamos, a técnica não se reflete em qualidade estética.

Um exemplo claro disso é o Parnasianismo, corrente literária na qual o que importava era basicamente a técnica do poeta. O poeta parnasiano deleitava-se em usar as mais difíceis palavras e construções literárias, a ponto de pregar a arte pela arte e a tentativa de remover as sentimentalidades nos poemas. Pois bem, o Parnasianismo, como corrente literária, ficou em voga por algumas décadas e hoje em dia não passa de mera curiosidade histórica para a maioria dos leitores. Isso porque a nossa concepção estética mudou drasticamente a ponto do Parnasianismo não fazer tanto sentido assim.

Com a música, acontece a mesma coisa. Estamos em plena modificação dos nossos valores e muita coisa vai mudar em nosso gosto. A grande diferença de hoje para as décadas passadas é cada vez mais a liberdade para gravar música e divulgá-la, diminuindo em muito a dependência do artista em relação à sua gravadora. Gravar música usando uma nota, hoje, é possível. Se a gravadora recriminar o artista por tal gravação, basta gravar num estúdio caseiro e disponibilizá-lo na internet. Inclusive, a banda White Stripes chegou a fazer um show somente com uma nota (!)



Assim, com a liberdade artística ampliada, a música está se transformando e sonoridades nunca antes gravadas estão sendo divulgadas. Isso, com certeza, exige uma nova percepção do conceito de música e um certo desapego aos valores estéticos tradicionais. O próximo passo do que vai acontecer com as gravadoras e como a música vai ser produzida foi dado pela banda Radiohead, ao lançar o disco "In Rainbows". Cada consumidor podia ir no site deles e pagar o valor que quisesse pelo download do álbum. Isso faz com que o consumidor possa atribuir diretamente o valor da música e interferir, então, no processo de criação do artista. Se isso vai vingar ou quais os seus desdobramentos, só o futuro dirá.