domingo, 30 de agosto de 2009

Da atual música produzida e consumida

Muitas vezes, quando converso sobre música, vejo as pessoas elogiarem determinada década e elege-la como “a melhor década da música”. Geralmente essa frase vem junta de outra, mais forte: “nunca mais vai haver músicas tão boas como antes”. Eu sou pessimista por natureza, mas, devo confessar, com relação à música sou muito otimista. Acredito estarmos numa grande fase musical e o futuro é mais promissor ainda. O que acontece, creio eu, é uma mudança generalizada no mercado fonográfico, que faz com que o consumidor sinta esse “vazio musical” a ponto de eleger outra década como a melhor.

Por exemplo, o primeiro ponto a mudar drasticamente a relação entre consumidor e música é que hoje em dia qualquer um escuta qualquer música de qualquer jeito. Atualmente, o sujeito escuta música no seu mp3 player, no youtube, na sua rádio online. Não existe mais aquela necessidade de esperar o lançamento do disco, ir à loja, comprá-lo. Numa sociedade de consumo, a partir do momento em que não é mais necessário gastar para consumir, o valor do produto consumido diminui. Assim, pela facilidade de adquirir a música, esta perde parte de sua qualidade musical aos ouvidos do consumidor, pois ele não teve dificuldade alguma para usufrui-la.

Outro ponto a mudar drasticamente, além da forma como a música é consumida, é a forma como ela é produzida. Antes o artista necessariamente sofria para poder entrar em um estúdio e conseguir gravar algo. Hoje, com o barateamento da tecnologia, é muito mais fácil produzir qualquer coisa. Aí então aumenta exponencialmente o número de gente produzindo música, havendo maior divisão de gosto e aumentando o questionamento sobre a qualidade de determinada música. Unanimidade, hoje, é algo cada vez mais raro.

A percepção do ouvinte/consumidor perante a música é mudada também pela sua divulgação e marketing. Antigamente, para ouvir o lançamento de determinado artista, era necessário esperar tocar na rádio, aguardar o videoclipe passar na TV. Eram poucos os meios de comunicação divulgando poucos artistas. Os ouvintes/consumidores ficavam nas mãos desses poucos meios, fazendo com que a música transmitida por eles parecesse de maior qualidade do que a que realmente era, se comparado ao atual cenário, com inúmeras fontes de divulgação para inúmeras bandas.

Por hoje é só, antes que me prolongue demais. Semana que vem chego à conclusão desse texto, mais um de meus pitacos pseudo-filosóficos.

domingo, 23 de agosto de 2009

South Park


Fiz uma crítica ao desenho "Os Simpsons" em um outro texto meu. Nele, eu chegava à conclusão de que o referido desenho, por meio de uma crítica à sociedade norte-americana leve e descompromissada, acaba ansiando pelo status quo social. Todas as instituições são agredidas, mas, no final, sempre a instituição "Família" é preservada. Além do mais, posso até estender meu comentário aqui afirmando que "Os Simpsons" carrega um pensamento burguês neo-liberal; personagens como Lisa e Margie são bem sucedidas, apesar do constante obstáculo ao seu sucesso imposto pelas instituições. Assim, sob a perspectiva do desenho, cada cidadão é capaz de desenvolver sua vida social satisfatoriamente, por meio de méritos próprios, independente da crise institucional generalizada a qual o personagem possa se achar.

Agora, chega de Simpsons, pois é a vez de analisar outro desenho: "South Park". Esse desenho, considerado mais escatológico, ácido e grosseiro, é também um desenho mais crítico, se comparado aos Simpsons. Não que South Park seja um primor de crítica ao atual american way of life, mas o desenho é mais niilista. Nele, nenhuma instituição resta de pé, e todas, inclusive a família, são sistematicamente destruídas a cada episódio. Não é ressaltado nenhum mérito pessoal que qualquer personagem possa ter, e todas as correntes ideológicas são criticadas. O menino judeu, o gordo, o pobre, o classe média, o rico, o deficiente, enfim, todos, possuem os mesmos problemas de se viver numa sociedade medíocre, e não há méritos individuais que os possam salvar.

South Park aborda questões espinhosas: racismo, sexo, educação e mídia estão no cerne da animação. Além desse ponto, o desenho chega a discutir o próprio formato do discurso, quando aborda a loucura a qual a comunidade norte-americana está chegando ao se importar tanto com o politicamente correto. Definitivamente, South Park não tem a intenção de ser artístico ou a preocupação de fazer uma crítica séria e embasada; é um desenho niilista, politicamente incorreto e, por isso, sua crítica ao status quo surte mais efeito.

domingo, 16 de agosto de 2009

Cowboy fora da lei

Em Honduras, o negócio continua daquele jeito. Vemos o Zelaya partir para a comunidade internacional atrás de apoio, tentando estreitar os laços com os EUA, para que estes tenham uma posição mais rígida para com o governo golpista. E a conta, nesse caso, é simples: cerca de 70% do comércio exterior hondurenho depende dos EUA. Um embargo, nesse caso, seria catastrófico. Não à toa, as eleições de Honduras estão aí, para serem realizadas em novembro e dar um cala boca à comunidade internacional.


Zelaya: "Mamãe, eu quero ser presidente"


No Senado brasileiro, o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB - RJ), sujeito que minimizou a opinião pública ao chamá-la de "muito volúvel", foi nada volúvel: arquivou tudo que apareceu no Conselho de Ética, fosse do governo, fosse da oposição.

Aliás, o Congresso Nacional parece finalmente preocupado com algo grave: a influenza A (H1N1). Nossos representantes demonstraram tanta preocupação com a tal gripe que chegaram a pedir lotes exclusivos do remédio TamiFlu ao Ministério da Saúde. Veja você, a razão do tal pedido foi o medo de que os servidores e os parlamentares tivessem de procurar o remédio nos centros públicos de saúde e ficassem sem.

Além de imunidade parlamentar, o Congresso almeja imunidade médica.

Por fim, um singelo vídeo do Collor (PTB - AL), atual defensor de Sarney (PMDB - AP), na campanha de 1989. Direto da série "teu passado te condena":


domingo, 9 de agosto de 2009

A boa e velha rádio AM

Na semana em que tudo aconteceu, nada, na verdade, aconteceu. Tivemos de assistir às trocas de acusações entre Simon (PMDB - RS) e Renan (PMDB - AL), depois Simon e Collor (PTB - AL), e, por fim, Tasso (PSDB - CE) e Renan.


O resultado de tudo isso? O conselho de ética arquivou todas - eu repito - todas as acusações que pairavam sobre Sarney e o nosso presidente do Senado continua lá, sem renunciar.


Fiquei inconformado com o causo e fui procurar gente disposta a compartilhar a minha dor. Em tempos de internet, nada melhor que o Twitter para apaziguar-se a alma, ainda mais depois de saber do movimento "fora Sarney". Pois bem: reza a lenda que os desbravadores desse movimento no Twitter foram Rafinha Bastos, do CQC, repórter Vesgo, do Pânico, Marcos Mion, da MTV, e Júnior Lima, irmão da Sandy. A mais fina flor da nossa televisão brasileira. Logo depois do discurso do Sarney, resolvi averiguar o Twitter de cada um para ver o que acharam do referido discurso.

Rafinha Bastos, em seu Twitter, estava interessado em um vídeo da internet e nem mencionou nada sobre o Senado: "Depois o sucesso do vídeo do casamento dançante, agora é hora do divórcio: http://bit.ly/16nJAy", postou ele. Deve ter sido um lapso, pensei, e fui ver o comentário do repórter Vesgo sobre o causo, mas acredito que ele se esqueceu também: "Domingo você conhecerá um novo esporte que virou moda na praia: o Cocobol. Imperdível!! http://twitpic.com/cw4i8". Realmente, o Cocobol deve interessar mais que a permanência ou não do presidente do Senado. Imperdível!, mesmo.

Depois de meus dois insucessos, não me abati e fui ver os comentários de Marcos Mion: "Gravando o quinta! http://yfrog.com/4qaywj". Tudo bem, ele estava gravando o programa Quinta Categoria, mas passou a semana inteira sem nem ao menos mencionar o caos no Congresso. Por fim, sobrou o Júnior Lima. Em seu Twitter, ele tinha outras preocupações: "RT @acmpereira http://twitpic.com/ctl2k"; nada sobre o Senado.

Decepcionado, principalmente com aqueles que tentaram fazer Ashton Kutcher participar do "fora Sarney", sai da internet. Liguei o rádio na AM mesmo e deixei o Twitter com seus vídeos e piadas para lá.

PS: Nada contra piadas e Twitter. O que me deixa triste é esse pessoal usar um fato político como matéria para um humor infantil, ao invés de usar o humor como fato político.

PPS: Em resumo, a tentativa de colocar Ashton Kutcher no "fora Sarney".



Cuidar da política do meu país? Fuck!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sarney

Ontem Pedro Simon (PMDB - RS) foi duramente atacado e criticado. Renan Calheiros (PMDB - AL), entre outras críticas, chegou a acusá-lo de incoerência; Fernando Collor de Mello (PTB - AL), além de afirmar que Simon seria um político magoado desde 1986, na época de Tancredo, disse também para Simon engolir suas palavras antes de pronunciar o nome Collor. Entre as acusações dos senadores, sobrou até a acusação de que Simon estaria fazendo nada com relação ao próprio estado, cheio com os escândalos de Yeda Crusius (PSDB - RS). Tudo isso porque Simon se pronunciou favorável à renúncia de Sarney.

Oras, a tropa de choque do Sarney conseguiu o seu intuito: além de silenciar o discurso de Simon, que se viu obrigado a passar a se defender, devido às acusações, desviou o foco da imprensa, que, ao invés de noticiar algo como "Simon pede a renúncia de Sarney", teve de noticiar a celeuma provocada pelo discurso.Que Deus tenha piedade de nós.