domingo, 6 de setembro de 2009

Conclusão: Da atual música produzida e consumida

Resumindo a primeira parte desse texto, em linhas gerais, acredito não haver nenhuma prova cabal de que a qualidade da música de hoje é inferior à das décadas anteriores. As mudanças as quais mencionei fizeram com que a nossa percepção musical ficasse diferente, além da própria música. Mas não é pelo fato da música ficar diferente, adotar uma nova estética, que faz com que a qualidade musical necessariamente fique inferior.

Há aqueles que ainda se apegam a um conceito de estética e percepção musical antigo, e esses sempre falarão que a música atual sofreu uma piora. Com certeza há um desleixo técnico em muitos músicos contemporâneos, a ponto dos três acordes do punk soarem como luxo hoje, mas, convenhamos, a técnica não se reflete em qualidade estética.

Um exemplo claro disso é o Parnasianismo, corrente literária na qual o que importava era basicamente a técnica do poeta. O poeta parnasiano deleitava-se em usar as mais difíceis palavras e construções literárias, a ponto de pregar a arte pela arte e a tentativa de remover as sentimentalidades nos poemas. Pois bem, o Parnasianismo, como corrente literária, ficou em voga por algumas décadas e hoje em dia não passa de mera curiosidade histórica para a maioria dos leitores. Isso porque a nossa concepção estética mudou drasticamente a ponto do Parnasianismo não fazer tanto sentido assim.

Com a música, acontece a mesma coisa. Estamos em plena modificação dos nossos valores e muita coisa vai mudar em nosso gosto. A grande diferença de hoje para as décadas passadas é cada vez mais a liberdade para gravar música e divulgá-la, diminuindo em muito a dependência do artista em relação à sua gravadora. Gravar música usando uma nota, hoje, é possível. Se a gravadora recriminar o artista por tal gravação, basta gravar num estúdio caseiro e disponibilizá-lo na internet. Inclusive, a banda White Stripes chegou a fazer um show somente com uma nota (!)



Assim, com a liberdade artística ampliada, a música está se transformando e sonoridades nunca antes gravadas estão sendo divulgadas. Isso, com certeza, exige uma nova percepção do conceito de música e um certo desapego aos valores estéticos tradicionais. O próximo passo do que vai acontecer com as gravadoras e como a música vai ser produzida foi dado pela banda Radiohead, ao lançar o disco "In Rainbows". Cada consumidor podia ir no site deles e pagar o valor que quisesse pelo download do álbum. Isso faz com que o consumidor possa atribuir diretamente o valor da música e interferir, então, no processo de criação do artista. Se isso vai vingar ou quais os seus desdobramentos, só o futuro dirá.