segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Novo de Tarantino no cinema

Na primeira cena de seu primeiro filme, Quentin Tarantino demonstra aquela que seria a sua principal característica e maior qualidade: o diálogo afiado com referências pop.

“Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, EUA, 1992) começa com uma discussão entre criminosos sobre qual seria o verdadeiro significado de “Like a Virgin”, música de Madonna, e tal discussão acabou entrando para a antologia do cinema nos anos 90. A partir dessa cena, veio o cineasta que iria abalar o cinema mundial com uma das maiores obras da década: “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (Pulp Fiction, EUA, 1994).

Tarantino, após a sua Opus Magna, acabou praticando um cinema com resultados irregulares. “Jackie Brown” (EUA, 1997) é bom, foi bem recebido pelos críticos, mas dividiu a opinião do público. E, para um diretor cheio de referências à cultura pop, é difícil fazer um filme e ficar afastado do público pop.

“Kill Bill”, lançado em dois volumes, reaproximou Tarantino do espectador cuja infância foi passada gastando fichas de fliperama com Mortal Kombat. Os dois volumes, no final das contas, aparentam ser um conjunto de combates do videogame, no qual o fim é sempre um inevitável fatality. Óbvio, Kill Bill é um legítimo Tarantino e possui qualidades, mas a própria crítica especializada, acostumada aos exageros de Tarantino, perguntou-se, afinal, se o diretor não estaria exagerando demais.

Pareceu que Quentin estava extravasando de vez a sua vertente brincalhona, e utilizou-se das referências pop como forma de legitimar uma estética duvidosa, ao invés de utilizar-se de tais referências para complementar um produto estético bem acabado.

“À Prova de Morte” (Death Proof, EUA, 2007), filme de Tarantino feito para o projeto “Grindhouse”, acabou ampliando essa má impressão de que o diretor estaria fazendo filmes cada vez mais descompromissados e desleixados, cujo exagero, antes útil à narrativa, só serve como brincadeira pura e simples.

É depois de todas essas alternâncias e com o intuito de formar uma base regular para seu cinema, que estreou, nessa sexta, "Bastardos Inglórios" (Inglorious Basterds, EUA, 2009), o novo filme do diretor. E, só por esse fato, merece ser assistido. Em Quentin Tarantino eu confio.