domingo, 31 de janeiro de 2010

O clube, o Estado e o produto

Todo o imbróglio Google x China, no qual o Google anunciou inclusive deixar o país, caso continuasse a sofrer interferência e censura do governo chinês, faz-nos pensar, como bem lembra o amigo Alexandre, de que a empresa parece agir como um Estado. Fato é que a China quer interferir na autonomia da empresa e vice-versa.

Se tivermos em mente a concepção do Estado como a de um governo que legisla, julga e executa, o Google aparenta ter desenvolvido status de Estado. Ao ver a sua "legislação" (liberdade de conteúdo) sendo burlada pelo governo chinês, a empresa julga e executa como medida cabível a de retirar-se da República Popular da China. A empresa, enfim, parece assemelhar-se a um Estado.

Essa aproximação torna-se mais latente se pensarmos no presidente como um produto midiático, pronto a ser consumido. A campanha presidencial de Barack Obama foi reconhecida no Cannes Lions, ganhando os prêmios de "Titanium Grand Prix" e "Integrated Grand Prix". Lula é outro produto midiático, com filme e tudo mais para ser consumido.

A empresa como Estado e o presidente como produto estão interligados e são possíveis, basicamente, por vivermos numa sociedade consumista na qual tudo possui um valor de mercado - e a função da crítica torna-se atribuir um valor, ao invés de questionar tal valor.

As notícias, vindas das mais variadas mídias, tem, em tal sociedade, o dever de digerir o fato em produto, para que o consumidor decida se o consome ou não. A ideia de vivermos num mundo de superinformação, nada mais é, a ideia de sermos empurrados sistematicamente a consumir alguém ou algo, seja ideologia, filme, música, série, fato ou Estado.

Talvez, a grande sacada da sociedade de consumo - e o motivo dela perdurar de maneira cada vez mais vigorosa - seja justamente sua capacidade de transformar qualquer coisa como material de consumo. Os materiais de consumo são tantos e tão variados, que até a ideologia anticonsumista acaba sendo consumida: o filme clube da luta - possuidor de uma mensagem veementemente anticonsumista - é consumido em edição de luxo. Sinal dos tempos.