domingo, 25 de abril de 2010

A Alice de Burton

Tim Burton é um diretor cujas películas transitam facilmente entre filmes classe B e aqueles advindos da produção hollywoodiana. Suas produções com visual exótico, gótico e escuro, além de figurino tresloucado, são únicos. Quando foi anunciado que o próximo filme do diretor seria "Alice no País das Maravilhas" (Alice in Wonderland, 2010) a expectativa era de uma grande obra, pelo fato desse caldeirão de Burton parecer se adequar perfeitamente a uma história como a da obra de Lewis Carroll.

O resultado final, porém, não foi o esperado. Burton apóia a sua narrativa estritamente no aspecto visual e a história é relegada a segundo plano. O telespectador com certeza vai se deliciar com a paleta de cores do diretor, com as transições de cenas criativas (como a do gato que ri, ao virar a Lua), com o figurino bem cuidado, com o visual das personagens e com tudo o mais que vier relativo ao aspecto visual da obra. Mas o enredo do filme compromete.
   
Ao chegar no País das Maravilhas, já é contado a Alice e ao telespectador o que a heroína do filme deve fazer, e então o restante da película é uma busca linear para a realização do objetivo. É uma viagem num lugar exótico, mas a viagem, em si, é tranquila, sem grandes variações ou surpresas.

O grande mote da obra de Lewis Carroll é justamente causar constantemente um estado de confusão e estranheza, nunca deixando um referencial fixo ao leitor. Burton causa a estranheza somente no visual, mas o seu enredo é fixo, linear, chegando até a descaracterizar certos personagens. O Chapeleiro Louco, por exemplo, aparenta ser mais um revolucionário político do que uma personagem imprevisível a confundir Alice.

Considerando prós e contras, o filme de Burton poderia ser bem melhor do que é, mas, em tempos onde o 3D e o visual imperam, há de o filme fazer grande bilheteria e estar bem inserido nesse contexto.